quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Quarto dia: A travessia do Chaco

Hora de abandonar a civilização. Depois de uma noite no Hotel Confianza, com um quarto confortável, internet meia-boca, garagem e um café da manhã anêmico (argentinos nem sonham com um café colonial à moda alemã), por R$ 130,00 para três pessoas, botamos o pé na estrada:


Não sem antes parar para apreciar um dos símbolos da cidade. Corrientes conseguiu dar saudades de casa depois um dia inteiro de viagem:


Dirigir no Chaco é uma das coisas mais entediantes que existem. Você espia até o horizonte, e só vê retas. Procura algum alívio no GPS, e só aparecem retas:


É fácil dirigir por 10, 15 minutos sem cruzar com ninguém. Se a estrada fosse um tapete, seria o local ideal para baixar o pé em um superesportivo. Mas o asfalto é ruim, e não há acostamento. E ficaria pior... 

Para quebrar a monotonia, a certa altura, um posto policial surge do nada. E eis que os folclóricos policiais do chaco avistam nosso carro (o único em um raio de uns 10 km), e fazem sinal para parar. O guardinha pilantra pede os documentos da motorista (a Aline, de novo) e o registro do carro. Depois pergunta porquê ela não estacionou direito (no acostamento) quando recebeu o sinal para parar. Detalhe é que ele só estendeu a mão, e a pista estava cheia de cones, sugerindo a parada no meio dela. Revisa um documento, o outro, com cara de quem não entende muita coisa, pergunta pra onde vamos... E sem ter nenhum motivo para emitir uma multa, pede na cara dura se não podemos dar uma contribuição para a "reforma da guarita". Tirei 10 pesos da carteira (pouco mais de 4 reais) e entreguei. Não muito satisfeito, ele enfia a cabeça pela janela da porta para olhar dentro do carro, e pergunta, sem jeito: "ustedes no traen chocolates Garoto?". Bingo. Saimos com seis caixas de chocolate Garoto de Porto Alegre. Alcançamos uma pro policial, e a boca foi nas orelhas. Imediatamente, nos recomendou uma boa viagem, perguntou se não tinha chovido muito no caminho, e agradeceu o "presente". É cômico e deplorável. Parecem moleques favelados em um cruzamento à espera de um troco ou comida. Saímos dalí pensando como deve ser miserável o emprego deles.

Seguimos caminho. Além de guardas mortos de fome e tédio, nos quase 900 km entre Corrientes e Salta, só há vilarejos. Um deles, não poderia ter nome mais apropriado:

Cidade miserável, ruas de terra, uma ventania constante que deixa tudo empoeirado, e um restaurante porco onde a garçonete pega uma fatia de empadão com a própria mão e serve o cliente. Aí veio outro problema: combustível. Por todo o Chaco, ele estava racionado. Para não corrermos o risco de abastecer de novo com uma mistura de solvente com urina de frentista, como aconteceu logo depois da fronteira, evitamos um ou dois postos pra lá de suspeitos. Falhamos miseravalmente. Nos demais, só se encontrava diesel. O jeito foi desligar o ar-condicionado e aliviar o pé. Uma providencial (e torrencial) chuva ajudou a baixar o ritmo da viagem. E a fina camada de asfalto da  Ruta Nacional 16 se transformou em uma sucessão de buracos. 

Andamos embaixo de chuva por umas boas horas. Um pouco antes do pôr-do-sol, ela aliviou, e pudemos enfrentar melhor o fantasma da falta de gasolina. Felizmente, chegamos até um grande posto distante uns 7 km de Salta, quase na reserva, e após esperarmos pacientemente o caminhão tanque descarregar e encarar fila da única bomba liberada em todo o posto, chegamos ao nosso destino. Nos hospedamos no Hotel Alto Parque. Confortável, barato, com garagem no local e um café da manhã decente (para os padrões argentinos).

E assim, encerro o relato do quarto dia de viagem. O quinto já correu, mas não consegui tempo para atualizar. Há muitos lugares para passear aqui, a cidade é simpática, a cerveja é boa, e há vários roteiros  para planejar. No próximo post, um tour por Salta. E agora, planejar o passeio pela rota do Tren de Las Nubes. De carro ;-) Até lá.

Dia seguinte:
http://rotasdaamerica.blogspot.com/2012/01/quinto-dia-salta-um-oasis-ao-pe-da.html

Um comentário:

  1. Ainda bem q os guardinhas nâo sâo enjoados né tio....Chocolate da Garoto é acessivel....Pior se pedisse chocolate da Lacta.....huahuahuahuahua.....Bjos e boa viagem a vcs.......

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